Crianças com autismo: Como lidar com a rigidez cognitiva?

Crianças com autismo: Como lidar com a rigidez cognitiva?

A rigidez cognitiva refere-se à dificuldade em se adaptar a mudanças ou em considerar alternativas em processos de pensamento. 

Crianças com esse desafio enfrentam barreiras significativas na aprendizagem e na interação social. Elas tendem a se apegar a rotinas ou ideias e têm problemas com o pensamento flexível, o que pode resultar em dificuldades para lidar com mudanças na rotina ou perspectivas.

Esse comportamento rígido mostra grande desconforto ou ansiedade quando suas rotinas ou expectativas são interrompidas, uma vez que seus processos de pensamento tipicamente preferem consistência, previsibilidade e regras claras.

Nesse sentido, aprofundar o conhecimento sobre estratégias adaptativas e abordagens terapêuticas pode ajudar a melhorar a qualidade de vida desses jovens, permitindo-lhes desenvolver uma maior flexibilidade mental e, consequentemente, uma maior adaptabilidade às demandas do cotidiano. 

Neurologia do autismo: Como o cérebro processa informações

O autismo, conhecido tecnicamente como Transtorno do Espectro Autista (TEA), envolve uma série de particularidades neurológicas que influenciam diretamente a maneira como a informação é processada pelo cérebro. 

Avaliações neurocientíficas sugerem diferenças estruturais e funcionais no cérebro de pessoas com autismo quando comparado a indivíduos neurotípicos.

Essas diferenças podem incluir:

  • Variações no desenvolvimento e na organização das conexões neuronais, impactando especialmente as regiões responsáveis pela percepção sensorial, cognição social e funções executivas.
  • Desbalanceamento entre a atividade dos neurotransmissores, resultando em sensibilidades ampliadas e respostas atípicas a estímulos sensoriais.
  • Anomalias no desenvolvimento de certas regiões cerebrais, como o cerebelo e o córtex pré-frontal, que são essenciais para o processamento de informações complexas e adaptação a mudanças no ambiente.

Crianças com TEA podem apresentar hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais, além de dificuldades na integração de informações sensoriais diversas. 

Isso pode levar a desafios na adaptação a novas situações e na flexibilidade cognitiva necessária para entender e aceitar diferentes pontos de vista ou maneiras de fazer as coisas.

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Rigidez cognitiva no autismo: Características e manifestações

A rigidez cognitiva é uma característica frequente em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), manifestando-se de diferentes formas que afetam a capacidade de adaptação e a aprendizagem. 

Essa rigidez refere-se à dificuldade em mudar pensamentos ou comportamentos em resposta a novas informações ou mudanças ambientais.

Caracterizando-se por padrões de pensamento e comportamento inflexíveis, a rigidez cognitiva no autismo apresenta várias manifestações:

  • Dificuldade com mudanças na rotina: Crianças com autismo podem se sentir extremamente desconfortáveis diante de alterações em sua rotina diária, mesmo que mínimas.
  • Preferência por atividades conhecidas: Mostram uma tendência a repetir atividades ou brincadeiras de que gostam, resistindo a experimentar coisas novas.
  • Resistência às transições: Passar de uma atividade para outra ou mudar de um ambiente para outro pode ser um desafio significativo.
  • Apego a detalhes: Focam em detalhes específicos de objetos ou situações, muitas vezes desconsiderando o contexto mais amplo.
  • Dificuldade em lidar com a imprevisibilidade: A incerteza ou eventos inesperados podem causar grande ansiedade e stress.
  • Literalidade de pensamento: Interpretações literais de linguagem idiomatica ou metafórica podem ser difíceis, limitando a compreensão de nuances sociais e emocionais.

Estas manifestações podem impactar a interação social, o processo educacional e a inclusão em atividades comunitárias. 

Dessa maneira, é importante que pais e profissionais que trabalham com crianças autistas estejam cientes dessas características para desenvolver estratégias e intervenções que promovam maior flexibilidade cognitiva, permitindo que a criança enfrente mudanças com mais segurança e menor nível de estresse.

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Avaliação e diagnóstico: Identificando a rigidez cognitiva em crianças autistas

A rigidez cognitiva em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode dificultar o aprendizado, a interação social e a adaptabilidade a novas situações.

Portanto, a identificação dessa característica é crucial para que a intervenção seja o mais efetiva possível. Profissionais da saúde e da educação envolvidos no diagnóstico e avaliação de crianças autistas devem estar atentos aos seguintes aspectos:

  • Preferência por rotinas: Observação de padrões de comportamento rígidos, onde a criança insiste em seguir uma rotina específica.
  • Resistência à mudança: Dificuldade em lidar com alterações, mesmo que pequenas, na rotina ou no ambiente.
  • Dificuldade em transições: Problemas em passar de uma atividade para outra ou mudanças súbitas de tarefas.
  • Fixação em interesses específicos: Interesse intenso e exclusivo em determinados tópicos ou objetos.

Para avaliar a rigidez cognitiva, profissionais podem se valer de:

  1. Observação direta: Em contextos diversos (escola, lar, consultório), observar a reação da criança a mudanças ou pedidos para alterar comportamento.
  2. Entrevistas com a família: Procurar por relatos sobre as dificuldades da criança em se adaptar a novas situações ou mudanças de rotina.
  3. Utilização de escalas e testes: Há ferramentas específicas, como questionários e escalas comportamentais, que auxiliam na quantificação da rigidez.
  4. Registros e diários: Os responsáveis podem manter registros detalhados de comportamentos diários, que ajudam a identificar padrões de rigidez cognitiva.

Assim, a intervenção precoce é importante para trabalhar habilidades de flexibilidade cognitiva e minimizar os impactos no desenvolvimento da criança, pois, a compreensão detalhada das manifestações de rigidez cognitiva facilita o desenvolvimento de estratégias personalizadas de intervenção.

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Como a rigidez cognitiva impacta o aprendizado da criança?

A rigidez cognitiva se caracteriza por uma aderência estrita a rotinas ou hábitos e uma resistência a mudanças, o que pode afetar negativamente a habilidade de uma criança para absorver novas informações e adaptar-se a ambientes sociais variados:

  • Aprendizado: A rigidez cognitiva pode dificultar a aquisição de novas habilidades e conhecimentos. Crianças com essa característica podem ter dificuldade em transitar entre diferentes atividades ou temas, comprometendo o processo educacional que frequentemente requer flexibilidade e adaptação. A insistência em seguir métodos específicos pode inibir a experimentação e a descoberta, cruciais para o aprendizado eficaz.
  • Desenvolvimento social: No âmbito social, a rigidez cognitiva pode resultar em interações sociais desafiadoras. Crianças com autismo já enfrentam desafios em ler e responder a sinais sociais; quando também apresentam rigidez em suas percepções e ações, torna-se ainda mais complexo para elas participarem de atividades em grupo, compartilhar e enturmar-se, ou mesmo compreender diferentes pontos de vista. Tais dificuldades podem levar ao isolamento social e dificultar a formação de amizades.

Desse modo, a compreensão do impacto da rigidez cognitiva é crucial para o desenvolvimento de estratégias de intervenção. 

Vale enfatizar que o ensino de habilidades flexíveis e adaptativas, tanto em contexto educacional quanto social, para apoiar o crescimento e bem-estar de crianças com autismo. 

Assim, é necessário trabalhar continuamente para mitigar tais efeitos e promover uma maior resiliência cognitiva, possibilitando a essas crianças uma melhor integração e participação na sociedade.

Abordagens para flexibilizar o pensamento

As intervenções psicológicas e comportamentais têm como objetivo promover a flexibilidade do pensamento, permitindo que essas crianças enfrentem o mundo com menos ansiedade e maior adaptação social. Algumas abordagens eficazes incluem:

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): A TCC ajuda a criança a identificar e modificar padrões de pensamento que contribuem para a rigidez cognitiva. Por meio de técnicas como a restruturação cognitiva, pode-se trabalhar para alterar crenças e comportamentos inflexíveis.
  • Treino de habilidades sociais: Atividades estruturadas que ensinam habilidades sociais podem aumentar a compreensão das crianças sobre as perspectivas dos outros, incentivando o pensamento flexível e a adaptação em situações sociais.
  • Intervenções baseadas em Jogos: Jogos que promovem a resolução de problemas e a criatividade podem ajudar no desenvolvimento da flexibilidade cognitiva, especialmente quando incentivam as crianças a explorar diferentes soluções e perspectivas.
  • Mindfulness e técnicas de relaxamento: Práticas que focam na atenção plena podem diminuir a ansiedade decorrente da rigidez cognitiva, permitindo que a criança se torne mais aberta a novas experiências e pensamentos.
  • Ensino estruturado: Adaptações no ambiente de aprendizagem que incluem estruturas visuais claras e previsibilidade podem reduzir a ansiedade e promover a adaptação gradual a mudanças.
  • Modelagem e Role-Playing: Através de role-playing, as crianças podem aprender a simular e praticar diferentes cenários, o que pode melhorar a capacidade de adaptação comportamental.

Ao implementar essas intervenções, é essencial que os profissionais estejam atentos às necessidades individuais de cada criança, oferecendo suporte e paciência à medida que elas aprendem a navegar em um mundo que pode ser desafiador para a sua percepção única.

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Conclusão

A detecção e intervenção precoces em crianças com autismo são fundamentais para melhorar os resultados relacionados à rigidez cognitiva, uma vez que a intervenção precoce é crítica pois permite:

  • A aplicação de estratégias de ensino adaptadas às necessidades específicas da criança;
  • A redução de comportamentos desafiadores por meio de terapias comportamentais;
  • A promoção do desenvolvimento de habilidades sociais e de comunicação;
  • A melhoria na qualidade de vida da criança e da sua família.

A detecção precoce depende do conhecimento e da sensibilização dos pais e profissionais de saúde sobre os sinais do autismo. 

Este processo envolve observação atenta e avaliações regulares durante os primeiros anos de vida da criança. 

Além disso, é essencial que os profissionais estejam bem treinados para identificar e diagnosticar o autismo precocemente.

Uma vez identificada a rigidez cognitiva, estratégias específicas, como terapia ocupacional, fonoaudiologia e ensino estruturado, devem ser implementadas. 

Essas estratégias ajudam no desenvolvimento de uma maior flexibilidade no pensamento e na capacidade de adaptação a mudanças, aspectos muitas vezes desafiadores para crianças no espectro autista.

Pois, as implicações da intervenção precoce vão além dos benefícios imediatos para a criança e uma abordagem proativa pode diminuir a necessidade de intervenções mais intensivas no futuro e contribuir para a inclusão social e escolar da criança, ampliando suas oportunidades e bem-estar a longo prazo.

Dessa forma, a detecção e intervenção precoce no autismo, portanto, não são apenas uma abordagem terapêutica — são um investimento na capacidade da criança de navegar em um mundo que não é naturalmente projetado para suas necessidades únicas. 

Trata-se, portanto, de um compromisso com a plenitude da vida dessas crianças, fornecendo as ferramentas necessárias para que elas possam desbravar os desafios do seu cotidiano com mais flexibilidade e resiliência.

 

Fontes consultadas:

Pais de autistas: acolhimento, respeito e diversidade - Andrea Lorena Stravogiannis 

Autismo: ao longo da vida - Debora Kerches 

Treino de habilidades sociais em transtorno do espectro autista (TEA) - Emmilly Suzane

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Principais sinais de autismo: veja quais são

 

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